terça-feira, abril 26, 2005

 

Não perca este Ônibus!


Ônibus 174 é um excelente documentário

"A policia realiza o jogo sujo que a sociedade gostaria que fosse feito." Esta frase se refere ao assassinato de Sandro pelos policias cariocas, logo após o fim do seqüestro do ônibus 174. Quem não lembra do policial que, na tentativa de assassiná-lo, acertou a cabeça da refém. O alvo sobreviveu, mas morreu asfixiado no camburão, a caminho da delegacia.

Não é difícil ouvir as vozes condenando-o ao lembrar de um homem pardo, desdentado, sujo, drogado, usando um pano escuro enrolado na cabeça, boné, que com linguagem de malandro prometia ‘esquentar a chapa’ se a polícia não atendesse suas exigências.

Fácil condená-lo se nos limitarmos ao seu presente. Mas é justamente isso que o documentário desconstrói. Como podemos julgar, punir, eliminar alguém com um passado marcado pela exclusão social, pelo racismo, pela pobreza, pelo vício.

Na infância, Sandro presenciara sua mãe ser degolada. Foi morar nas ruas, algumas vezes em frente à Igreja da Candelária. Isso mesmo, ele foi um dos sobreviventes da chacina realizada por policiais em 1993, quando morreram oito crianças.

Teve oportunidades sim... Depois de ter sido flagrado roubando um carro, foi para uma unidade da Fundação do Bem-Estar do Menor - FEBEM. Não é lá que oferecem programas de profissionalização e a reintegração social do adolescente? (Estou sendo irônica, logicamente).

Mais da história de Sandro é narrada neste filme. Para conhecê-la melhor, basta atentar a cada um dos garotos que vivem na rua e que fingimos não existir. De tantas vezes que me deparo com eles, chorei apenas duas. Uma quando na saída do cinema, após assistir Cidade de Deus, um garoto no farol começou a fazer graça para mim. A princípio o ignorei, mas seu sorriso, suas mímicas, me cativaram. Ele não pediu dinheiro, só queria que os outros rissem da sua ‘arte’. Chorei. Chorei muito.

A outra foi há alguns dias, quando um garoto malabares matou a pau. De verdade. Não tinha dinheiro para dar a ele, mas o surpreendi com um elogio. Juro que foi espontâneo. “Muito bom! Parabéns!”. Ele abriu um sorriso tão lindo, tão sincero... Seu amigo aprece que ficou mais orgulhoso que ele. “Você viu o que ela falou! Nossa... Tá mandando bem”. Depois da segunda marcha chorei que nem criança.

Quanto tempo levará para que percam a inocência? Quanto tempo suportarão ser ignorados frente aos vidros dos carros fechados, aos maus tratos da polícia, à dureza das ruas. “Cold ground was my bed last night, and rock was my pillow, too... Talking blues, they say your feet is just too big for your shoes”. Palavras de Bob Marley, aquele negro que fumava maconha e não tomava banho.

Muitos devem estar pensando: “Quanta ingenuidade! Bandido tem de morrer tudo. São tudo sem-vergonha”. Desculpem, mas não consigo pensar assim. Ainda mais depois de assistir a ‘Ônibus 174’, que não por acaso, tem sido pouco divulgado, pouco assistido e jamais passará na tevê aberta. Melhor ver mil vezes “Meu Primeiro Amor”, “Armageddon”, “Efeito Colateral”, “Duro de Matar”... Dentre tantas pérolas estadunidenses...

Comments:
Lou, eu assiti esse filme há umas duas semanas...e assim como vc, mudei um pouco a maneira de pensar em relacao aos delituosos da nossa sociedade. Certamente, para nós que fomos criados em berço de ouro, é muito fácil criticar, sendo mais cõmodo acreditar que está mesmo tudo banalizado... Excluir, fechar os olhos, são outras características comuns entre seres humanos pertencentes às melhores classes sociais...
Porém até quando essa visão desumana será realidade??não estou defendendo a atitude do criminoso, ou fazendo apologia à sua revolta, apenas estou dizendo que a sua atitude foi a exteriorizacao, foi uma tentativa de reconhecimento perante a sociedade diante de tanta desigualdade.
 
Lou, eu assiti esse filme há umas duas semanas...e assim como vc, mudei um pouco a maneira de pensar em relacao aos delituosos da nossa sociedade. Certamente, para nós que fomos criados em berço de ouro, é muito fácil criticar, sendo mais cõmodo acreditar que está mesmo tudo banalizado... Excluir, fechar os olhos, são outras características comuns entre seres humanos pertencentes às melhores classes sociais...
Porém até quando essa visão desumana será realidade??não estou defendendo a atitude do criminoso, ou fazendo apologia à sua revolta, apenas estou dizendo que a sua atitude foi a exteriorizacao, foi uma tentativa de reconhecimento perante a sociedade diante de tanta desigualdade.
 
É meu.... mas precisamos tbm tentar nos colocar no lugar do policial... Que ganha salário miserável e arrisca sua vida diariamente por causa de uma sociedade hipócrita, e de uma política que não dá subsídios psicológicos para policiais como esse aí do filme!!!
Não que eu defenda sua atitude...
Mas temos que entender que não é dado suporte nenhum para esses policiais... Que no final das contas acabam sendo os bandidos da história, sendo que a atitude do criminoso nada tem a ver com a vida desse policial!
 
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