sexta-feira, janeiro 06, 2006

 

A Mídia Sempre Esteve a Favor do Poder

Eis alguns trechos da entrevista com o Mino Carta na revista Caros Amigos de dezembro

“Por exemplo, a capa da Veja sobre a grana que Fidel teria entregue ao Lula. É uma coisa absolutamente ridícula, jornalisticamente inaceitável. É um diz-que-diz que teria que ser provado por um falecido. Veja que coisa cômoda apresentaram. É uma capa. Afirmando. A manipulação é perfeita, por quê? Porque eu percebo quando ando pelos bares da vida, estico os ouvidos e as pessoas falam: “O Fidel deu dinheiro para o Lula!”. Existe uma manipulação evidente, determinada, levada a cabo, infelizmente, por um bando de colegas que são, sobretudo, sabujos, que executam ordens do patrão. Provavelmente porque têm medo de perder o emprego”.

"Acho que a mídia sempre esteve a favor do poder porque ela é um dos rostos do poder, ela é o poder, sempre trabalhou pelo poder. A única diferença está no fato de que, enquanto o nosso jornalismo regrediu muito em termos de qualidade de texto e coisas desse tipo, avançou em termos técnicos. Então, a televisão chega longe, os jornais, as revistas estão com um papel bonito. Eles chegam mais facilmente e o poder de manipulação aumenta."

"De qualquer maneira, a verdade é que eles não aceitam um metalúrgico na presidência da República. Não confiam no metalúrgico e não confiam na turma dele. Às vezes eles se enganam. Palocci, por exemplo, a alma dele é tucana."

"A nossa herança é muito ruim, até porque nunca houve briga de verdade. As guerras de independência de outros países foram guerras de verdade (...). Isso forma efetivamente, a meu ver, as nações. Temos heranças péssimas, heranças da escravidão, que pesa, marca o lombo do povo brasileiro."

"Eu torço desesperadamente contra a seleção brasileira de futebol. (...) Ela, com suas vitórias retumbantes (...) faz muito mal ao povo brasileiro. Porque ele se engana constantemente. Basta um gol do Corinthians que o povo se perde aí. Essas festas na paulista me dão nojo. Essa gente deveria fazer é revolução, mas não vão fazer nunca. Aliás, o Marx e até o Tocqueville diziam a mesma coisa: “Não espere que os povos apáticos, os povos da miséria verdadeira e total, façam a revolução. A revolução quem a faz são aqueles que percebem que lhes cabem um quinhão, um pedaço do latifúndio e estão dispostos a brigar por isso."

"Aqui basta chegar e dizer “é ladrão”, não precisa provar, assume-se nos bares da moda que o cara é ladrão. Por quê? Porque a mídia trabalha inclusive nesse sentido, é uma sociedade muito pouco complexa além de tudo, porque você tem uma mídia compactamente unida contra aquilo que eles supõem ser o risco comum deles, ao que pode mudar, provocar algum tipo de mudança."

"Uma coisa que me deixou muito perplexo e até traz fortes suspeitas de que houvesse algo por trás dessa história toda foi o fato do Fernando Henrique (...) no começo do ano deu uma entrevista ao Valor. Perguntaram: “O senhor seria candidato?” Ele disse: “Não, não serei candidato. Só em caso de crise gravíssima”. (...) Esse cara é muito matreiro, muito safado, tem algo esquisito, tem alguma coisa aí, tem gato na tuba. Houve alguma coisa por baixo. Não tenho dúvida."

"Mas a mídia sempre se portou assim, donde, no meu entendimento, não é um fenômeno novo. É a história de 64. A mídia começou a implorar o gole desde 62. Tão logo o João Goulart assumiu o lugar do senhor Jânio Quadros, inventaram o parlamentarismo, aquela coisa grotesca. Desde aquele momento, a mídia começou a querer... E quem estava bravo aparentemente, onde estava a espuma? Nos quartéis. Então são eles que vão fazer o serviço sujo. Mas quem pensa que o golpe foi militar, a meu ver, está enganado. O golpe foi desse poder que está aí hoje. Até hoje. Os militares são os gendarmes que executam o serviço. Depois de um certo momento, eles até gostaram do poder. O poder empolga."

"O ACM deu uma entrevista à segunda edição da Carta Capital, dizendo: “O FHC não é de esquerda coisa nenhuma. Besteira. Imagina, ele é um dos nossos”.

"O senhor Roberto Marinho lia a Miriam Leitão e acreditava no que ela escrevia. E ela própria acreditava no que escrevia. Se dependesse deles, elevariam FHC à glória dos altares. Doze dias depois de empossado para o segundo mandato, ele desvalorizou o real. Doze dias! É o maior engodo eleitoral de que eu tenho conhecimento."

Mas há um mito de que a grande imprensa é imparcial, que está apenas noticiando os fatos. "Você tem toda a razão. Essa idéia existe na cabeça das pessoas. Acho que o país vive uma crise moral, a crise cultural é evidente, enfim você tem ali uma mistura estranha de mau caráter e ignorância, mau caráter e QI baixo. A nossa turma aí, essa chamada classe média, o QI é baixo, eles não sabem nada. Faz uma pesquisa para saber se eles leram Machado de Assis, Euclides da Cunha, se sabem quem foi Getúlio Vargas exatamente."

"Não vejo o jornalismo como um curso universitário, vejo como um curso de pós-graduação. O ideal para um cara que quer realmente chegar preparado (...), acho que um bom curso de história, por exemplo, um bom curso de sociologia, um bom curso de economia, de letras, de filosofia, e depois uma pós-graduação em jornalismo."

Comments:
Viva o livre pensar e a independência - como dizia o Millor, livre pensar é só pensar, mas estes que ajudam os outros a pensar melhor são especiais.
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?