sexta-feira, janeiro 06, 2006
Seu País - Em Estado de Sítio
“Com um ensino estatal de qualidade indigente e um ensino privado de qualidade farsesca, têm-se o retrato do País”
Seguem abaixo trechos do artigo "Em Estado de Sítio", publicado pelo educador e professor da USP, Julio Groppa Aquino, na edição especial da Carta Capital.
“De um lado, o trabalho escolar convertido em assistencialismo para pobres, por meio de uma oferta pedagógica aligeirada, fracionada e diluída; de outro, tornado objeto de mercantilização para ricos, por meio da oferta de mais um produto de grife, pragmático e com destinação certa: a preparação técnica para os vestibulares”.
“A segunda tensão (...) afeta diretamente o ensino público: a normativa da universalização do ensino fundamental versus o crescente analfabetismo funcional de uma enorme parcela da população – alguns estudos o estimam no patamar de, no mínimo, 50%”.
“Dos palanques eleitorais às teses acadêmicas, repete-se em uníssono a prioridade da agenda educacional no tocante ao desenvolvimento econômico e social do País; donde a escolarização como suposto mecanismo básico de ascensão socioeconômica para os que dela usufruem. Contudo, os críticos apontam a face obscura de tal agenda massificadora: com o suposto fito de promover eqüidade, o ensino público teria se convertido num eficaz dispositivo de reprodução das injustiças sociais, e seus profissionais, num contingente de mão-de-obra a serviço da exclusão silenciosa dos alunos desfavorecidos, ratificando a vulnerabilidade social e pedagógica que já padecem. (...) Estariam então as escolas condenadas à tarefa de perpetuar o apartheid socioeconômico brasileiro, quando, em tese, se lhes atribui o exato oposto?”.
“No cotidiano escolar, é patente um inflacionamento das demandas pedagógicas advindo de um superávit de expectativas atribuídas aos profissionais – aqui ‘ensina-se’ tudo: valores, atitudes, habilidades formais e informais e, enfim, destrezas intelectuais. Grande escola! Por outro lado, a alegação recorrente dos atores escolares é a oposta – aqui ‘já não se consegue ensinar nada’, dada a desfiguração radical dos papéis de professor e aluno e, por extensão, a esgarçadura do vínculo entre eles. Pobre escola!”
Na mesma revista, uma entrevista com Guilherme Leal, diretor da Natura, sobre a mesma questão da educação. Eis alguns trechos:
"Não fizemos o grande pacto da educação neste país e sem isso não vejo como a gente vai ter um desenvolvimento consistente nos próximos 20 ou 30 anos”.
“Se a gente olha a Irlanda, a Espanha, a Coréia e Israel num período de duas ou três décadas, o que aconteceu foi transformador. A sociedade estabeleceu que a educação era prioridade absoluta, o principal instrumento para construir um novo acordo social, para construir uma nova sociedade, mais inclusiva e com capacidade de se inserir no mundo globalizado com o mínimo de condição de competitividade, de participação nesse bolo. Isso não aconteceu aqui. Tivemos avanços na educação nos últimos 20 anos. Dos anos 90 para cá, incluiu-se mais. Éramos lá 80% e hoje somos 97% de crianças na escola. Mas sabemos que a qualidade da educação tem tudo por ser feito”.
Seguem abaixo trechos do artigo "Em Estado de Sítio", publicado pelo educador e professor da USP, Julio Groppa Aquino, na edição especial da Carta Capital.
“De um lado, o trabalho escolar convertido em assistencialismo para pobres, por meio de uma oferta pedagógica aligeirada, fracionada e diluída; de outro, tornado objeto de mercantilização para ricos, por meio da oferta de mais um produto de grife, pragmático e com destinação certa: a preparação técnica para os vestibulares”.
“A segunda tensão (...) afeta diretamente o ensino público: a normativa da universalização do ensino fundamental versus o crescente analfabetismo funcional de uma enorme parcela da população – alguns estudos o estimam no patamar de, no mínimo, 50%”.
“Dos palanques eleitorais às teses acadêmicas, repete-se em uníssono a prioridade da agenda educacional no tocante ao desenvolvimento econômico e social do País; donde a escolarização como suposto mecanismo básico de ascensão socioeconômica para os que dela usufruem. Contudo, os críticos apontam a face obscura de tal agenda massificadora: com o suposto fito de promover eqüidade, o ensino público teria se convertido num eficaz dispositivo de reprodução das injustiças sociais, e seus profissionais, num contingente de mão-de-obra a serviço da exclusão silenciosa dos alunos desfavorecidos, ratificando a vulnerabilidade social e pedagógica que já padecem. (...) Estariam então as escolas condenadas à tarefa de perpetuar o apartheid socioeconômico brasileiro, quando, em tese, se lhes atribui o exato oposto?”.
“No cotidiano escolar, é patente um inflacionamento das demandas pedagógicas advindo de um superávit de expectativas atribuídas aos profissionais – aqui ‘ensina-se’ tudo: valores, atitudes, habilidades formais e informais e, enfim, destrezas intelectuais. Grande escola! Por outro lado, a alegação recorrente dos atores escolares é a oposta – aqui ‘já não se consegue ensinar nada’, dada a desfiguração radical dos papéis de professor e aluno e, por extensão, a esgarçadura do vínculo entre eles. Pobre escola!”
Na mesma revista, uma entrevista com Guilherme Leal, diretor da Natura, sobre a mesma questão da educação. Eis alguns trechos:
"Não fizemos o grande pacto da educação neste país e sem isso não vejo como a gente vai ter um desenvolvimento consistente nos próximos 20 ou 30 anos”.
“Se a gente olha a Irlanda, a Espanha, a Coréia e Israel num período de duas ou três décadas, o que aconteceu foi transformador. A sociedade estabeleceu que a educação era prioridade absoluta, o principal instrumento para construir um novo acordo social, para construir uma nova sociedade, mais inclusiva e com capacidade de se inserir no mundo globalizado com o mínimo de condição de competitividade, de participação nesse bolo. Isso não aconteceu aqui. Tivemos avanços na educação nos últimos 20 anos. Dos anos 90 para cá, incluiu-se mais. Éramos lá 80% e hoje somos 97% de crianças na escola. Mas sabemos que a qualidade da educação tem tudo por ser feito”.